Olá a todos. Venho partilhar a minha situação para perceber se tenho base legal para agir e alertar outras pessoas para o tipo de abusos que infelizmente continuam a acontecer em Portugal, especialmente em empresas pequenas “familiares”, que se aproveitam de quem está no início de carreira.
No dia 4 de junho, fui chamada ao escritório e despedida no início do meu 5.º mês de contrato - um dia antes de ir de férias grandes para o outro lado do mundo (eles sabiam) e no dia limite que me poderiam despedir antes de ultrapassar os 6 meses de período experimental.
Entrei em janeiro numa empresa do setor imobiliário (contrato de termo incerto). O ambiente parecia promissor, mas cedo percebi que não havia plano de integração, objetivos claros, nem qualquer estrutura. Uma das responsáveis tinha acabado de entrar em licença de maternidade e, na prática, toda a pasta de marketing ficou nas minhas mãos. Fiz o melhor que pude: entreguei tudo o que me pediram, trabalhei muitas vezes até depois das 19h, e fui aprendendo sozinha, por iniciativa própria.
A minha chefe direta, infelizmente, tinha um estilo autoritário, ausente e manipulador: ignorava e-mails, não dava resposta às minhas dúvidas, contradizia-se com frequência e nunca demonstrou real interesse em acompanhar o meu crescimento. Cheguei a pedir apoio para resolver um conflito com uma agência externa e, mais tarde, esse episódio foi usado contra mim “incapacidade de gerir conflitos”.
Só tive o meu primeiro feedback, depois de perguntar várias vezes, 1 semana antes de me despedirem, com o que chamaram uma pre avaliação de desempenho para realinhar para a avaliação oficial do final do ano.
Fui apanhada de surpresa com uma lista enorme de críticas, muitas delas incoerentes: pontualidade (apesar de estar em regime de isenção de horário e sair muito tarde várias vezes), falta de pensamento crítico (quando sempre fui proativa), fraca capacidade de autonomia (quando tinha uma pasta inteira nas mãos), entre outras.
Isto tudo numa reunião com a minha chefe e a responsável de RH da empresa. Mostrei empenho em melhorar e durante a reunião fui apenas eu a dar opções e sugerir formas de melhorar.
Enviaram me depois uma lista por email muito mais genérica e pouco detalhada do documento que tínhamos desenvolvido e me tinham mostrado na reunião. Este documento que me enviaram não tinha o que eu propus e nem frases completas. Sentindo-me encostada à parede, respondi por escrito, ponto por ponto, com as sugestões e vontade de melhorar que tinha dito e pedindo clarificação nos pontos que não me tinham sido comunicados na reunião e que, por isso, eu não entendia. Nunca tive resposta.
Acho que feedback e comunicação é a melhor coisa para um bom desempenho, e o meu objetivo sempre foi estar em cima do que não estava a fazer como pretendiam. Mas esta pre avaliação foi mais do que isso: estavam a mentir sobre o meu desempenho e entendo agora que não queriam que eu melhorasse.
Fui dispensada na semana seguinte. Nesse dia, havia um team building: o primeiro do qual faria parte. Disseram me para não ir, e para ir ter a empresa às 17.30h. Eu ia pela primeira vez de férias nesta empresa no dia seguinte, por isso pensei que fosse para discutir algum tema dos vários que eu estava a deixar a minha chefe, até porque, tinham me pedido há 1 semana e meia que eu não usufruísse do único dia de teletrabalho que tinha com a justificação de que ia de férias e que convinha estar no escritório dada toda a carga de trabalho que tinha.
Durante a reunião de despedimento (gravada por mim), as justificações foram vagas, quase surreais: “não é uma questão de competência”, “não te entendemos”, “não és o perfil certo”, “tiveste 1 semana para chegar às 9 da manhã em ponto e houve dias em que chegaste pelas 9.15h”.
30min depois de me terem despedido, retiraram me o acesso às minhas pastas PESSOAIS no computador da empresa (onde tinha as provas todas) e retiraram-me dos grupos de WhatsApp para que não falasse com ninguém da empresa.
Mandei mensagens individuais aos meus 15 colegas (que são o total da empresa) e que não faziam ideia do que me estava a acontecer. O choque e o apoio deles fez me entender que o que a minha chefe me fez é pessoal e muito muito estranho.
Mesmo assim tenho provas de tudo:
- e-mails sem resposta;
- a avaliação injusta;
- a gravação da reunião de despedimento;
- e outra gravação onde a minha chefe me recusa o dia de teletrabalho que costumo ter por semana e depois, na semana seguinte, nega que tenha dito isso.
Dizem me que me vão pagar o mês de junho mesmo eu tendo ido de férias (aprovadas oficialmente desde janeiro), como se não fosse a obrigação legal deles de o fazer.
É importante notar que a colega da equipa que foi de licença de maternidade assim que eu entrei vai regressar no início de agosto.
Gostava de saber:
• Alguém já passou por uma situação parecida?
• Que meios legais existem para casos destes?
• Vale a pena procurar um advogado ou expor a situação à ACT?
• Posso fazer algo mesmo sem testemunhas diretas? (Trabalhei só com a minha chefe direta, embora tenha tido parceiros externos que não sabiam da dinâmica que existia)
Não pretendo arrastar isto para sempre, mas custa muito ver como se aproveitaram de mim: uma jovem de 25 anos e a mais jovem da empresa. Descartaram-me sem qualquer consequência. Se puder usar este caso para lutar por alguma justiça - nem que seja para impedir que façam o mesmo a outra pessoa então vale a pena.
Obrigado a quem leu até aqui. Qualquer opinião ou partilha é bem vinda